Por Olga Oliveira – Especial para a Cáritas Brasileira
Fotos: Virgínia Maria Yunes – Especial para a Cáritas Brasileira
O Centro de Referência de Economia Solidária Dom José
Ivo Lorscheiter em Santa Maria (RS), é a estrutura que abriga o Feirão
Colonial, que acontece semanalmente aos sábados de 7h às 11h30. A feira faz
parte do projeto Esperança/Cooesperança que compõe e constrói a economia
solidária no Brasil. Aproximadamente 200 produtores expõem seus produtos para
milhares de consumidores nesse ambiente de aprendizado, solidariedade e troca. O
espaço possui cinco pavilhões que organizam as exposições de produtos
agroindustriais familiares, de panificação, artesanato, hortigranjeiros,
plantas ornamentais, além de praça de alimentação, espaço de lazer para
crianças, saúde e massagem. Há também espaço para oficinas, formações culturais
e convivência.
O lugar celebra a economia
solidária, garantindo oportunidade para muitas famílias conseguirem renda, ao
mesmo tempo em que oferece produtos de qualidade e sem agrotóxicos para os
consumidores da feira.
Para saber mais sobre Economia
Popular Solidária no Brasil, acesse
Cáritas Brasileira aposta na Economia Popular Solidária como meio de
transformação social.
Com o lema “transformação pela
solidariedade” o projeto Esperança nasceu a partir das provocações e incitações
de Dom Ivo Lorscheiter nos anos 80. O objetivo era e sempre foi a busca pela
caridade libertadora, organizada através dos Projetos Alternativos Comunitários
(PACS) e da Economia Solidária. A Cooesperança é uma cooperativa mista de
pequenos produtores rurais e urbanos vinculados ao Projeto Esperança. A
cooperativa é uma central, que juntamente com o Projeto Esperança, congrega e
articula grupos e viabiliza a comercialização direta dos produtos produzidos
por empreendimentos solidários do campo e da cidade. Juntos o projeto Esperança e a Cooesperança
fortalecem com todos os grupos um novo modelo de cooperativismo na proposta
alternativa, solidária, transformadora, autogestionária e de desenvolvimento
sustentável.
São muitos os frutos do Projeto
Esperança/Cooesperança, entre eles a Feicoop (Feira Internacional do
Cooperativismo) e a 15º Feira Latino Americana de Ecosol. “Aprendente e
ensinante” é o que diz a Irmã Lourdes Dill sobre a Feicoop, que existe há 26
anos. “Sua primeira edição
foi em 1994. Começou como uma sementeira, uma pequena feira local que deu
passos e se tornou regional, depois nacional e hoje ela é uma feira
internacional e intercontinental. Ela reúne a cada ano mais de 300 mil pessoas,
com muitos seminários, oficinas e atividades formativas, onde há um grande
intercâmbio entre os empreendimentos urbanos, rurais, artesãos, quilombolas,
povos indígenas, catadores, pessoas em situação de rua e todos os movimentos
sociais que se encontram na feira”, diz a Irmã que foi vice-presidente
da Cáritas Brasileira entre os anos de 2016 e 2019.
Irmã Lourdes Dill também destaca a importância do apoio da
União Europeia, Fundação Banco do Brasil, BNDES coordenado pela Cáritas
Brasileira. ”Ajudou a fortalecer a formação dos grupos, os intercâmbios, as
pesquisas e também equipamentos que foram beneficiando alguns grupos”, conta.
Rosa Guidolim é a coordenadora da
Escola Cristã de Educação Política (ECEP). Ela fala sobre a Escola que capacita lideranças em
economia solidária há mais de 20 anos. “Nós realizamos esta etapa aqui porque
nós acreditamos que este espaço não é só um espaço de venda de produtos, é um
espaço de muita formação e de muito aprendizado onde cada um vem aqui e é
transformado e se transforma para mudar a sociedade de onde vem”, conta. “A
Escola tem como objetivo a formação de lideranças para que estas lideranças
possam intervir na sociedade, na vida social, na vida política” destaca.
Miracir Ciper Sho é natural de
Agudo (RS), foi produtora de fumo, mas hoje trabalha com alimentos. “Há muitos
anos larguei a cultura da morte para produzir a cultura da vida que são os
alimentos saudáveis”, declara. “A feira significa muito para mim porque os
ganhos da minha família vem do que vendo na feira. O meu marido é professor e
trabalha na agricultura e 90% do que produzimos é vendido na feira. O meu filho
se formou em técnico agrícola, na área da ecologia, o que é uma força a mais
para nossa propriedade. Um filho na
agroecologia é tudo que espero para melhorar ainda mais a nossa produção”,
finaliza.
Para consolidar ainda mais o Feirão e as demais atividades que acontecem no Centro de Referência a Cáritas Brasileira, Fundação Banco do Brasil e União Europeia auxiliaram na compra de vários equipamentos, como mesas, balanças e balcões.
Cláudia Machado é agente Cáritas e conta sua trajetória dentro do projeto na linha da transformação social e da economia solidária. “Nós fazemos acontecer em rede um outro mundo, construindo um mundo possível, onde juntos e articulados nessa questão acreditamos na transformação porque como diz um provérbio antigo “Muita gente pequena fazendo pequenas coisas mudarão a face da terra”.
Eriberto Figueiredo, nascido e
criado em Santa Maria (RS), é consumidor assíduo do Feirão Colonial. “Além de
comprarmos produtos de boa qualidade e procedência nós conhecemos os
produtores, já fui nas propriedades de muitos, e conhecemos um produto
diferenciado. Posso dizer que na minha casa mais de 70% do que nós consumimos
de alimentos vem dessa feira. O que nós compramos nos supermercados é pouca
coisa, e isso se deve à qualidade do produto que nós encontramos aqui e nós
sabemos que o que encontramos no comércio em geral são produtos com muito
agrotóxico. Nós sabemos também que o trabalho de Dom Ivo, que foi um visionário
nesse sentido de ajudar os pequenos agricultores para que pudessem comercializar
suas produções de forma direta sem atravessador. O produtor sempre é explorado,
ele é explorado porque está lá na ponta produzindo e entre ele e o consumidor
muitas vezes tem diversos atravessadores que ficam com boa parte do lucro desse
produtor. Então, aqui na feira é uma forma solidária de interagirmos com o
produtor”, conta.
Sérgio Lima de Oliveira, artesão
há mais de 30 anos, trabalha com cuias de chimarrão. “Eu encontrei nas cuias
uma alternativa de trabalho. Sofri um acidente quando tinha 28 anos de idade, e
aí fiquei pensando o que eu poderia fazer. Surgiu a oportunidade de estudar e
outras coisas, mas aí fiquei pensando que sei fazer cuias e adaptei ferramentas
e procurei fazer uma pesquisa no melhoramento da qualidade dos porongos e
comecei a fabricar cuias”, ele conta. “Aí conheci o projeto
Esperança/Cooesperança que me deu a alternativa de expor os produtos e vender
eles direto ao cliente. Dentro do projeto a gente teve a formação sobre o que
era a Economia Popular Solidária, e eu aplico isso dentro da minha propriedade,
lá onde moro. A gente tá transformando ela totalmente num sistema agroecológico
com preservação do meio ambiente. A água lá é por captação e a gente faz um
tratamento bom, também. Então, a gente aprendeu muitas coisas com o projeto que
estamos aplicando numa forma de viver melhor e buscar mais qualidade de vida.
Dentro desses trabalhos eu faço vários tipos de acabamento de cuias, e a gente
também faz troca de alguns produtos pra ter variedade na banca com outros
artesões. Nesse tempo todo que a gente está aprendendo cada dia vai
melhorando”, finalizou.